segunda-feira, 28 de março de 2011

Negar a si mesmo

E dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me. Lucas 9:23 

Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me; Mateus 16:24 

E chamando a si a multidão, com os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me. Marcos 8:34 



Três referências com a mesma essência. Dos quatro evangelhos, apenas João não traz essa passagem.  Tenho meditado acerca desse "negue-se a si mesmo". Creio que todos nós, cristãos e não cristãos já ouvimos isso que Jesus disse várias vezes. Mas já paramos pra analisar pessoal e profundamente o que significa?

William James, um dos pais da psicologia, distingue, em 1892, o "eu" como a instância interna conhecedora, e  o "si mesmo", como o conhecimento que o indivíduo tem sobre si próprio.

Baumeister, doutor em psicologia social pela Universidade de Princeton,  propõe, em 1993, que o "si mesmo" se baseia em três experiências básicas do ser humano:
  1. a consciência reflexiva, que é o conhecimento sobre si próprio e a capacidade de ter consciência de si;
  2. a interpessoalidade dos relacionamentos humanos, através dos quais o indivíduo recebe informações sobre si;
  3. a capacidade do ser humano de agir.
Esse conhecimento que o "eu" tem sobre "si mesmo" tem dois aspectos distintos: por uma lado um aspecto descritivo chamado auto-imagem e por outro um aspecto valorativo, a auto-estima. Definitivamente Jesus nunca foi preocupado com a auto-estima de ninguém, nem Ele nem os profetas; e sabemos que muito do que se tem como auto-imagem é fruto de mentiras e marcas de engano lançadas sobre nós ao longo da vida pelo inimigo.
           
Entendo então, que o si mesmo pode dizer de uma imagem, ou um personagem construído por cada um de nós a fim de sermos aceitos em sociedade. Tendo consciência de si, vemos várias características que não são agradáveis nem a nós nem a quem nos cerca e temos o hábito de esconder nossas imperfeições, criando uma imagem maquiada de nós mesmos. Quanto à interpessoalidade, (onde os outros nos dão informações sobre nós mesmos, através da interação do convívio – o que nossos atos produzem nelas, ou mesmo procurando responder às expectativas existentes), vamos nos moldando numa lógica de custo-benefício das imagens ou papéis desempenhados/interpretados. O que, por sua vez, dita um pouco sobre nosso modo de agir. “Se produz aceitação e ‘harmonia’ na comunhão, vai ser assim que agirei daqui pra frente!” e “Se causa aversão ou contendas, não devo mostrar posso omitir partes de quem realmente sou”.

“Se alguém”: o dever imposto é para todos os que desejam se unir aos seguidores de Cristo e alistar sob a Sua bandeira. “Se alguém quer”: o grego é muito enfático, significando não somente o consentimento da vontade, mas o pleno propósito de coração, uma resolução determinada. “Vir após mim”: como um servo sujeito ao seu Mestre, um estudante ao seu Professor, um soldado ao seu Capitão. “Negue”: o grego significa “negar totalmente”. Negar a si mesmo: sua natureza pecaminosa e corrompida. “E tome”: não passivamente sofra ou suporte, mas assuma voluntariamente, adote ativamente. “Sua cruz”: que é desprezada pelo mundo, odiada pela carne, mas que é a marca distintiva de um cristão verdadeiro. “E siga-me”: viva como Cristo viveu — para a glória de Deus (A Cruz e o Ego, Arthur W. Pink).

            Negar a si mesmo não é somente crucificar nossos desejos de natureza humana e carnal. Negar a si mesmo é chegar a uma completa repudiação de sua própria bondade. Significa cessar de descansar sobre quaisquer obras nossas, para nos recomendar a Deus. Significa uma aceitação sem reservas do veredicto de Deus que “todas as nossas justiças [nossas melhores performances], são como trapo da imundícia” (Isaías 64:6). Significa renunciar completamente sua própria sabedoria. Significa renunciar completamente sua própria força. É “não confiar na carne” (Filipenses 3:3). É o coração se curvando à declaração positiva de Cristo: “Sem mim, nada podeis fazer” (João 15:5). Significa renunciar completamente sua própria vontade. É o reconhecimento prático de que “não sois de vós mesmos, porque fostes comprados por bom preço” (1 Coríntios 6:19,20). É dizer com Cristo, “Não seja, porém, o que eu quero, mas o que tu queres” (Marcos 14:36).
Não há nenhuma reserva, nenhuma exceção feita: “Nada disponhais para a carne no tocante às suas concupiscências” (Romanos 13:14). Deve ser constante, não ocasional: “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me” (Lucas 9:23). Deve ser espontânea, não forçada, realizada com satisfação, não relutantemente: “Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor e não para homens”.

Na cruz Cristo foi repudiado e rechaçado por aqueles que o viam. Havia vergonha, dor e nudez. Nenhum sinal de força, onipotência ou soberania se viu na cruz. Mesmo aqueles que o amavam permaneciam ali no Calvário, mas creio eu, que com dificuldade de encará-lo por muito tempo sem desviar o olhar. A imagem chocava.

Ao negarmos a nós mesmos e tomarmos nossa cruz, abrirmos mão de nossa aparente força e imagem perfeita e agradável, muitos não vão gostar que irão ver. Mas é quando abrimos mão do que com nossas forças criamos e lutamos para manter é que realmente nos esvaziamos e permitimos que Deus nos preencha, possibilitando que haja mais Dele e menos de nós. O custo é alto aqui. Estamos acostumados a agir na lógica natural de agradar homens e passar a crucificar uma reputação a fim de agradar a Deus tirará o alimento do nosso ego e poderá secar fontes enganosas de amor e aceitação. No processo sentiremos falta dessas fontes assim como Israel sentiu falta do alimento do Egito, mas que, guiados pelo Espírito não voltemos atrás!

O tempo está passando. Não há muito tempo pra brincar de cristão ou viver um evangelho superficial que não alcança nossa zona de conforto. Não escondemos nada de Deus. Ao mantermos uma imagem falida e mantida pela força carnal podemos ludibriar pessoas mas pra quê tanto esforço se Quem realmente importa condena nosso modo de agir por saber que se embasa em mentiras e omissões?

4 comentários:

  1. como faço p/ entrar em contato contigo?

    me escreva...

    Ney - Casa de Davi
    neyejulia@gmail.com

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  2. Muito lindo parabéns. Honras ao senhor.

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  3. maravilhoso me ajudou muito Deus abençoe, como aprendi, me sinto até mais forte,louvado seja Deus!

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  4. Que ótimo estudo!!! Parabénsss!!! Continue nesse caminho, tu és benção.

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